quinta-feira, 3 de novembro de 2011

HISTÓRIA E MODO DE VIDA EM NOSSO MOSTEIRO


Nossa Ordem tem mais de 1500 anos, sendo a mais antiga do mundo. Em 1582, os primeiros monges beneditinos chegaram na cidade de Salvador, capital da Bahia. Estamos por comemorar 430 anos. Somos uma comunidade de monges que vive uma vida voltada para a oração e ao trabalho. Em Salvador, desempenhamos algumas atividades: acolhemos pessoas para retiros vocacionais, temos um museu de obras sacras, possuímos um serviço social e uma biblioteca. Na área educacional, temos um Colégio que atende crianças desde o Fundamental I (1ª a 5ª séries) ao Ensino Médio (1°, 2° e 3° ano), uma Faculdade com os cursos de Psicologia, Filosofia, Teologia e História, um laboratório de restauração de livros, somos capelães das Monjas Beneditinas, entre outras atividades. Tudo é feito para a glória de Deus e aquele que deseja ser monge deve se encaixar no trabalho que lhe for confiado.
Nossa comunidade é jovem, a maioria dos membros têm abaixo de 35 anos. Somos um tanto diferentes, porque conservamos algumas tradições seculares, como por exemplo, o uso das vestes monásticas, o estudo e a aplicação na oração do canto gregoriano, etc. Nossas orações são todas cantadas. Em suma, nosso modo de viver é de monges, um tanto diferente da maioria dos religiosos de hoje.
O trâmite normal para aquele que quer ingressar neste Mosteiro é o seguinte: após o primeiro contato, costumamos enviar uma ficha de identificação. Depois, o candidato nos envia uma carta de apresentação do seu pároco ou de um religioso amigo. Depois que ele tiver sido acompanhado por um tempo, então é-lhe concedido vir passar um tempo aqui conosco durante uma semana, para conhecer-nos melhor. Depois, se estiver perseverante, convidamo-lo para vir passar um mês de experiência, a fim de que ele tenha absoluta certeza para onde está ingressando e o que está fazendo. Depois que se entra, passa a ser Postulante em nosso Mosteiro, seguindo em tudo a vida da comunidade e se preparando para o Noviciado (6 meses a um ano), para depois então ser Professo Temporário (3 anos), e finalmente, Professo Perpétuo e se for da vontade de Deus e da comunidade, poderá ser Sacerdote.

(Digitação: Ir. Leonardo Oliveira, OSB) 




O QUE É A VIDA MONÁSTICA?


O monaquismo brotou na Igreja num momento de grave desafio: saindo da clandestinidade das catacumbas e casas particulares, onde se refugiara das perseguições, a Igreja viu-se colocada na situação oposta: foi necessário assumir, no início do século IV, o papel de religião oficial do Império. Ela corria o risco de ser tragada por essa difícil convivência com o poder, deixando que seus valores essenciais e a simplicidade de suas origens fossem abafadas.
Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar, na solidão do deserto e numa vida extremamente pobre, o clima propício ao conhecimento de si e ao encontro com suas fontes espirituais. Embora seja um modo de vida especial, a vocação monástica sempre conservou-se ativa na Igreja. A identidade do monge se define pela escolha consciente de um modo de vida que é ao mesmo tempo marginal e implicitamente crítico em relação à sociedade em geral e, nos nossos tempos, especialmente em relação à sociedade de consumo. O monge não foge do mundo, nem odeia o mundo, para seguir ao Cristo no deserto, lugar de sofrimentos e tentações, mas também de autenticidade e encontro.

 
Assim, colocando-se à certa distância da sociedade. Livre de suas convenções e imperativos, o monge entrega-se totalmente ao Cristo e assume uma disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradição espiritual que lhe é transmitida por um mestre e um comunidade.
Sendo alguém que busca a Deus, o monge se dispõe a um contínuo e entusiasmado processo de conversão no dia-a-dia de sua vida comunitária. A comunidade torna-se a “escola do serviço do Senhor”, reunida em torno de um pai, o Abade, sinal de Deus que é Pai.
Na comunidade aprende-se a arte de perdoar e amar, de deixar-se gradativamente completar, em sua personalidade, pelas riquezas dos outros. Este processo de crescimento alimenta-se no diálogo constante, pessoal e comunitário, com Deus na oração, verdadeira respiração vital da presença do Espírito. E à oração une-se naturalmente o trabalho manual ou intelectual, realizado por todos em espírito de oferenda e como serviço aos homens.

 
Toda esta caminhada conduz, pela graça, a uma transformação interior e a um aprofundamento da consciência e da percepção, chegando a uma experiência no mais profundo do ser.
A vida do monge é toda alicerçada na fé, experimentando constantemente a morte e ressurreição em Cristo, com tudo o que isso implica: despojamento, humildade, paz, serviço, alegria, liberdade. Dentro do mosteiro o monge permanece aberto às necessidades dos homens e ao acolhimento. É livre para encontrar e amar a todos. E quer ser, segundo a vontade de Deus, um instrumento de seu Reino.

(Digitação: Ir. Leonardo Oliveira, OSB)

NA REGRA DE ONTEM A VIDA DE HOJE


Em São Bento se enfeixam e se articulam os primeiros três séculos da experiência sintetizada, somada à sua vivência de santidade, ao seu gênio legislativo e ao seu fino conhecimento da psicologia humana.
Por seu equilíbrio e fidelidade evangélica, a Regra logo se espalhou em toda a Europa, instaurando aquele modo de vida de oração, estudo e trabalho, que garantiu a conservação da cultura antiga no seio dos povos bárbaros, orientou a educação dos jovens e animou a evangelização de muitos países. Por sua solidez espiritual e jurídica, a Regra edificou os mosteiros beneditinos que foram os focos irradiantes da fé e de cultura em toda a Idade Média – período no qual plasmaram as atuais nações e línguas européias. É por isso que São Bento é hoje venerado como Patrono da Europa. Assim começa o Prólogo da Regra beneditina:
“Escuta filho, os preceitos do Mestre, e inclina o ouvido do teu coração; recebe de boa vontade e executa fielmente o conselho de um bom pai, para que voltes, pelo labor da obediência, àquele de quem te afastastes pela desídia da desobediência. A ti, pois, se dirige agora a minha palavra, quem quer que sejas que, renunciando às próprias vontades, empunhas as gloriosas armas da obediência para militar sob o Cristo Senhor, verdadeiro Rei”.

(Digitação: Ir. Leonardo Oliveira, OSB)


SÃO BENTO, PAI DOS MONGES DO OCIDENTE


“Que há de mais doce para nós,
caríssimos irmãos,
do que esta voz do Senhor a convidar-nos?”
(RB, Prólogo)

BENTO, HOMEM DE DEUS
Por que ainda se guarda a lembrança deste homem que nasceu quinze séculos atrás? Certamente porque se trata de alguém que tem algo de fecundo a ensinar aos homens de hoje.
Bento (em latim: “Benedictus”, que quer dizer “bendito”), nasceu na Itália, numa pequena cidade chamada Núrsia. Sua família pertencia à pequena nobreza de proprietários rurais. Antes dos vinte anos de idade, foi mandado para Roma, a capital e maior cidade do mundo conhecido de então, a fim de estudar letras. Mas Bento não se adaptou aos ambientes acadêmicos e sociais decadentes que encontrou , sentia necessidade de algo diferente. Partiu novamente para o interior e, depois de algum tempo, retirou-se completamente para “habitar consigo mesmo”, na expressão dos “Diálogos” de São Gregório Magno, o mais antigo cronista de sua vida.
Procurar a Deus de verdade: esta era a aspiração de Bento. Por isso, na radicalidade de seu espírito jovem e resoluto, confrontou-se com as opções fundamentais do Evangelho: pobreza, a disponibilidade total a Deus, a escuta e o aprofundamento de sua Palavra. Tornou-se monge. Passou a viver solitariamente numa gruta, em Subiaco (em latim antigo: “sub-lacum”). A esta gruta, seis séculos mais tarde, subiu São Francisco como peregrino, e nessa ocasião alguém pintou na rocha o mais antigo retrato que se guarda do Pobre de Assis.
Depois de três anos de completa reclusão, na qual só contava com a ajuda de um outro monge que lhe fazia chegar, por uma corda, um pouco de comida. Bento começou a ser descoberto pelos camponeses e pelos outros monges da região. Alguns dentre estes convenceram-no a ser seu Abade, em Vicovaro. Incapazes, porém, de abandonar o relaxamento habitual e seguir o caminho de perfeição que Bento lhes mostrava, tentaram envenená-lo. Mas foram surpreendidos pela força de sua pureza: o cálice com a bebida mortífera partiu-se em pedaços quando o jovem abade sobre ele fez o sinal da cruz.
Tendo voltado Bento à Subiaco, construíram-se ali, no correr dos anos, doze mosteiros que seguiam sua orientação. No entanto, a fama de sua santidade despertou as infâmias de um pároco invejoso e Bento, para garantir a tranquilidade de seus discípulos, decidiu abandonar aquele lugar. Tendo deixado superiores para cada mosteiro, levou consigo apenas duas crianças que educava, Mauro e Plácido, e poucos companheiros.
A providência o encaminhou para Monte Cassino, onde permaneceu até o fim da vida e fundou o grande mosteiro que até hoje é venerado como o tronco de todas as casas beneditinas. Lá viveu e escreveu a Regra de vida que guiou o caminho de incontáveis gerações de santos e monges e até hoje orienta nossa vida monástica. Perto de lá, sua irmã, Escolástica, deu início ao ramo feminino da Ordem de São Bento, observando a mesma regra por ele estabelecida.

(Digitação: Ir. Leonardo Oliveira, OSB)